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O que significa impuro?

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Hiroshi Sugimoto, Seascape Baltic Sea, Rugen, 1999
Hiroshi Sugimoto, Seascape Baltic Sea, Rugen, 1999
XXII domingo do Tempo Comum, ano B, 30 agosto 2015
Mc 7,1-8.14-15.21-23
Reflexão sobre o Evangelho 
por ENZO BIANCHI

 

 

Naquele tempo, reuniu-se à volta de Jesus um grupo de fariseus e alguns escribas que tinham vindo de Jerusalém.
Viram que alguns dos discípulos de Jesus comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavar.
– Na verdade, os fariseus e os judeus em geral não comem sem terem lavado cuidadosamente as mãos, conforme a tradição dos antigos.
Ao voltarem da praça pública, não comem sem antes se terem lavado.
E seguem muitos outros costumes a que se prenderam por tradição, como lavar os copos, os jarros e as vasilhas de cobre –. Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus:
«Porque não seguem os teus discípulos a tradição dos antigos, e comem sem lavar as mãos?»
Jesus respondeu-lhes:
«Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito:
‘Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim.
É vão o culto que Me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’.
Vós deixais de lado o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens».
Depois, Jesus chamou de novo a Si a multidão e começou a dizer-lhe:
«Ouvi-Me e procurai compreender. Não há nada fora do homem que ao entrar nele o possa tornar impuro.
O que sai do homem é que o torna impuro; porque do interior dos homens é que saem os maus pensamentos:
imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos estes vícios saem lá de dentro e tornam o homem impuro».

Depois dos trechos do capítulo sexto do Evangelho segundo S. João, da catequese sobre Jesus como "palavra e pão da vida", voltamos à leitura seguida do Evangelho de S. Marcos. Tínhamo-lo deixado com a narração da primeira multiplicação dos pães (cf. Mc 6,30-44), e reencontramo-lo com a leitura de alguns trechos do capítulo sétimo que recolhe palavras de Jesus que são eco de controvérsias com os Fariseus e os Escribas.

São palavras proferidas e atualizadas pela Igreja mas que permanecerão sempre como, nada mais, nada menos, do que o Evangelho de Jesus Cristo. Porém, confesso que, diante destas palavras, que aparecem em rotura com o Judaísmo, os comentadores bíblicos dividem-se entre aqueles que as interpretam como sendo um discurso nascido da Igreja do final do primeiro século contra os Fariseus - o Judaísmo mais presente e "combativo" - e aqueles que, pelo contrário, insistem na rotura radical, do desconhecimento de Jesus da Lei que o precedia. Não é fácil fazer o discernimento nesta leitura mas vamos tentar, procurando nada ficar a dever às ideologias judaizantes, nem, da ou outra parte, às marcionitas.

O que quer Jesus dizer? Diante de “fariseus e alguns escribas que tinham vindo de Jerusalém”, portanto, da autoridade oficial do Judaísmo, Ele entra em polémica, chega mesmo a atacá-los diretamente porque julga o seu olhar, o facto de O acusarem, a Ele e aos discípulos, de terem um comportamento não conforme à vontade de Deus. Com efeito, os discípulos de Jesus, sentam-se à mesa sem terem primeiro feito as abluções rituais das mãos, mandamento que, na Torah, compete, apenas, aos sacerdotes que fazem a oferta, o sacrifício (cf. Ex 30,17-21). No tempo de Jesus havia movimentos que radicalizavam a Lei, grupos intransigentes e integralistas que pediam aos seus membros para se comportarem como os sacerdotes oficiantes do Templo que multiplicavam e radicalizavam as prescrições da Lei, com uma obsessão particular pelo tema da pureza. Entre estes estavam os chaverim (companheiros, amigos) e os perushim (separados, fariseus) – identificados por alguns como sendo um único movimento –, cuja minuciosa legislação casistica levará à formação da Mishnah.

Jesus deixava os seus discípulos livres destas observâncias que não eram requeridas por Deus, mas pelos intérpretes da Palavra de Deus, e que se transformavam em "tradições"; e quando os homens produzem tradições querem que estas sejam "a tradição", e por isso atribuem-lhe a mesma autoridade atribuída à Palavra de Deus. Era isto que acontecia então, assim como acontece hoje nas Igrejas! Os Evangelhos testemunham-nos que, sobre muitos assuntos, Jesus contestou as tradições que alienam os crentes, não estão ao seu serviço mas criam uma falta de liberdade e, muitas vezes, acabam por erguer barreiras, por traçar limites entre os homens. Quanto ao caso destas páginas, é preciso reconhecer que a mesa, lugar de partilha, de comunicação, de exercício de amor, de aliança, no Judaísmo, tornou-se progressivamente um lugar de divisão e de excomunhão do outro: o estrangeiro pagão, o pecador, o impuro não podiam tomar parte com o Judeu pio. Assim a impureza dos alimentos vedados a Israel tornava impossível aos Hebreus estar à mesa com os pagãos, porque cada Hebreu era considerado koinós, profano, e akáthartos, impuro (cf. At 10,28).

Mas, para Jesus, estas distinções não existem e quem as pratica não conheceu o pensamento do Senhor. Por isso, diante da repreensão feita pelos Fariseus aos seus discípulos, Jesus responde-lhes com a palavra de Deus a partir dos Profetas: “Este povo aproxima-se de mim só com palavras e honra-me só com os lábios, pois o seu coração está longe de mim e o culto que me presta é apenas preceito humano e rotineiro” (1Is 29,13). Jesus veio para nos libertar de uma religião que fabrica imagens de Deus e dos seus preceitos a que os homens de todas as culturas se gostam de dedicar. E atenção: Jesus não quer contrariar nem a Lei nem a Tradição, mas sabe direcionar a questão para a intenção do legislador, Deus, como faziam os Profetas, para que a Lei seja acolhida no coração, com liberdade e amor. Jesus acolhe as palavras da aliança de Deus com Moisés, mas não as acolhe sem fazer um discernimento dos 613 preceitos da Tradição, porque sabe bem que se se multiplicam os preceitos, aumenta a possibilidade de não os cumprirem e crescem as situações de hipocrisia. E depois “a palavra do nosso Deus permanece eternamente” (Is 40,8; 1Pt 1,24), enquanto a Tradição evolui com as mudanças culturais, com as gerações e, apesar de venerável devido à sua antiguidade, a palavra permanece humana, invólucro e rivestimento da palavra do Senhor. É a tudo isto que Jesus se refere quando afirma, voltando-se para os seus interlocutores: “Descurais o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens”(Mc 7,8) para acrescentar logo de seguida “anulando a palavra de Deus com a tradição que tendes transmitido(Mc 7,13).

Depois, dirigindo-se à multidão, explica: “Escutai todos e compreendei o alcance, refleti, sejam inteligentes! Não há nada fora do homem que, entrando nele, possa torná-lo impuro. São as coisas que saem dele que o tornam impuro". Os discípulos não compreenderam e então Jesus, já impaciente, esclareceu-os: “Não compreendeis que tudo aquilo que entra no homem de fora não pode torná-lo impuro, porque não lhe entra no coração mas no ventre e sai pelo esgoto?”. Desta forma Jesus "declara puros todos os alimentos”, e pouco importa se tal precisão tenha saído literalmente da sua boca ou tenha sido gerada pela Igreja a partir dos seus ensinamentos… Por fim, Jesus conclui com palavras que deviam esclarecer a questão de uma vez por todas: "O que sai do homem é que o torna impuro; porque do interior dos homens é que saem os maus pensamentos: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos estes vícios saem lá de dentro e tornam o homem impuro”.

Vale a pena notar que os pecados enumerados são todos contra o amor, contra o próximo, porque o pecado existe nas relações entre cada um de nós e os outros; não é por acaso que Jesus disse que seremos julgados apenas pelo amor que dedicámos aos outros (cf. Mt 25,31-46), sobre o coração e sobre a sua capacidade de relação, misericórdia, pureza e fidelidade. Sim, o mal e o impuro estão onde falta o amor e não noutros sítios em que os religiosos gostariam de os encontrar para manterem viva a sua construção. O mal e o impuro não estão nas coisas mas em nós, na nossa escolha entre amor e ódio, entre reconhecer o outro e afirmá-lo, entre a nossa vontade de comunhão e a nossa vontade de separação.

Não esqueçamos que podemos sentar-nos em torno da mesa dos pecadores porque Jesus se sentou numa mesa em que estavam pecadores como comensais, até ser chamado “comilão, bêbado, amigo dos publicanos e dos pecadores” (Mt 11,19; Lc 7,34). Não esqueçamos que para todos os homens e mulheres a mesa é um lugar de comunhão, de encontro, de face-a-face, de relação, de celebração da amizade, de amor e de afeto. Por isso não podemos excluir ninguém da mesa. Se o fizermos seremos nós os excluídos da mesa do Reino! Quanto à mesa eucarística ninguém está excluído nem mesmo o pecador, se reconhece os seus pecados  e coloca a mão como um mendigo no corpo do Senhor. Deveria ser excluído quem não sabe discernir o corpo de Cristo (cf. 1Cor 11,29) no irmão e na irmã, no pobre, no pecador, no último, naquele que não tem dignidade. No entanto, é mais fácil fazer a ablução das mãos durante a liturgia eucaristica, repetindo um versículo do salmo que não reconhecer o próprio pecado e dizer: “Eu não sou digno mas, pela tua misericórdia, entra em minha casa!”.