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A tempestade no mar da Galileia

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Eugene Delacroix, Gesù sul lago di Genezareth, 1854, Nelson-Atkins Museum of Art, Kansas City, USA
Eugene Delacroix, Gesù sul lago di Genezareth, 1854, Nelson-Atkins Museum of Art, Kansas City, USA
XII domingo do Tempo Comum, ano B, 21 junho 2015
Mc 4,35-41
Reflexão sobre o Evangelho por Enzo Bianchi

Naquele dia, ao cair da tarde,
Jesus disse aos seus discípulos:
«Passemos à outra margem do lago».
Eles deixaram a multidão e levaram Jesus consigo na barca em que estava sentado.
Iam com Ele outras embarcações.
Levantou-se então uma grande tormenta
e as ondas eram tão altas que enchiam a barca de água.
Jesus, à popa, dormia com a cabeça numa almofada.
Eles acordaram-n’O e disseram:
«Mestre, não Te importas que pereçamos?» Jesus levantou-Se, falou ao vento imperiosamente e disse ao mar:
«Cala-te e está quieto». O vento cessou e fez-se grande bonança. Depois disse aos discípulos:
«Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?»
Eles ficaram cheios de temor e diziam uns para os outros:
«Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?»

Depois de ter anunciado aos discípulos e à multidão algumas parábolas a partir de uma barca junto da praia (cf. Mc 4,1-34), Jesus decide passar para a outra margem do mar da Galileia: trata-se de uma "saída" da Terra Santa, de Israel, para uma terra habitada por pagãos. Porquê esta decisão audaz? Porque é que Jesus, apesar de se sentir "enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel" (cf. Mt 15,24), quer anunciar a misericórdia de Deus também aos gentios, quer combater Satanás, quer tirar-lhe terreno também naquela terra estrangeira e não Santa? É esta a razão que move Jesus. Enquanto Jonas, chamado por Deus para ir a Nínive, cidade símbolo dos pagãos, foge na direção oposta (cf. Gn 1,1-3), Jesus, pelo contrário, enviado de Deus, vai até junto dos pagãos.

Os discípulos iniciam a travessia do lago, “levando-O consigo” (expressão curiosa, porque, subitamente, é Jesus que leva consigo os discípulos: cf. Mc 9,2; 10,32; 14,33). Ele está cansado de uma longa jornada de pregação e já na barca procura um lugar para repousar. Mas, à vontade de Jesus opõe-se o mar que é o lugar onde as forças do mal se desencadeiam durante a tempestade. Não nos esqueçamos que para os Hebreus o mar era o grande inimigo, vencido pelo Senhor quando fez sair o seu povo do Egipto (cf. Ex 14,15-31); era a residência de Leviatan, o monstro marinho (cf. Jb 3,8; Sal 74,14); era o grande abismo que quando desencadeava a sua força, amedrontava os navegantes (cf. Sal 107,23-27). E eis que a força do demónio se manifesta numa tempestade de vento que atira as ondas sobre a barca e tenta afundá-la. É de noite, é a hora das trevas e o medo sacode aqueles discípulos que não conseguem mais governar a barca. O naufrágio parece inevitável, no entanto, Jesus, à popa, dorme...

Então os discípulos, tomados pela angústia, ao verem Jesus adormecido, impacientam-se. Decidem acordá-Lo e, com modos pouco reverenciais, gritam: “Mestre, não te importas que pereçamos?”. Já esta forma de se exprimirem é eloquente: chamam-no (didáskalos) e com palavras bruscas contestam a sua inércia, o seu sono. Palavras que, na versão de S. Mateus, são uma oração – “Senhor (Kýrios), salva-nos, estamos perdidos!” (Mt 8,25) – e na versão de S. Lucas uma chamada – “Mestre, Mestre (epistátes), estamos perdidos!” (Lc 8,24) –. São Marcos recorda melhor as relações simples e diretas, por vezes pouco gentis, dos discípulos para com Jesus...  

Diante desta falta de fé, Jesus grita ao vento e exorciza o mar dizendo: ""Cala-te e está quieto". O vento cessou e fez-se grande bonança”. Este milagre operado por Jesus - não escapa a ninguém - tem, sobretudo, um valor simbólico porque cada um de nós, na sua própria vida conhece horas de tempestade. Também a Igreja, a comunidade dos discípulos, por vezes se encontra em situações de contradição e sente-se imersa em águas agitadas, num vértice que ameaça a sua existência. Nestas situações, em particular quando duram muito tempo temos a impressão que a invisibilidade de Deus seja, na realidade, um sono, um não-ver, um não-sentir os gritos e os gemidos de quem se lamenta. Sim, a pouca fé faz os crentes gritarem: “Deus, onde estás? Porque dormes? Porque não intervens?” (cf. Sal 35,23; 44,24; 59,6, ecc.). Devemos confessá-lo: mesmo se acreditamos ter uma fé madura e ser cristãos adultos, quando chega a hora interrogamos Deus sobre a sua presença, chegamos a contestá-Lo e algumas vezes a duvidar da sua capacidade de ser o Salvador. O sofrimento, a angústia, o medo, a ameaça à nossa existência pessoal ou comunitária tornam-nos semelhantes aos discípulos na barca durante a tempestade. Por isso Jesus os censura com palavras duras. Não só lhes pergunta: “Porque estais tão assustados?”, como acrescenta: “Ainda não tendes fé?”. Discípulos sem fé, sem adesão a Jesus: seguem-No, escutam-No, mas não põem n'Ele toda a fé…

Diante destas críticas de Jesus mas, também, diante do que viram com os seus próprios olhos, surge no íntimo dos discípulos uma questão: “Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?”. Porém, também deste acontecimento não saberão extrair uma lição, porque, quando chegar para Jesus e para eles a grande tempestade, a hora da sua paixão e morte, serão menos por causa da sua falta de fé. Com efeito, esta prova da tempestade no mar é anúncio da grande prova que os espera em Jerusalém; mas então todos o abandonarão e fugirão (cf. Mc 14,50)…. depois, diante de Jesus, morto e sepultado, convencem-se da falha do Mestre e do seu grupo. Apenas o túmulo vazio e a contemplação de Jesus vivo, ressuscitado da morte, gerarão neles uma fé sólida que os levará a confessar Jesus como vencedor sobre o mar e sobre a morte. Então, enquanto testemunhas do Ressuscitado, tornar-se-ão capazes de enfrentar, por sua vez, a tempestade que se abaterá sobre eles: a perseguição por causa do nome de Jesus e da sua fé n'Ele.

Quando Marcos escrevia o Evangelho e o entregava à Igreja de Roma, a pequena comunidade cristã na capital do Império, estava no centro de uma tempestade, viviam com um medo tal que não conseguiam ser missionários junto dos pagãos. Por isso Marcos convida-os a não temerem a "saída" missionária, convida-os a conhecerem as provações que os esperam como necessárias (cf. Mc 10,30); provações e perseguições nas quais Jesus, o Vivente, não dorme mas está no meio deles. A tempestade no mar da Galileia é uma metáfora da luta contra as forças do mal que Jesus Cristo venceu. Jesus aparece-nos como Jonas, mas um Jonas ao contrário, não relutante, mas missionário junto dos pagãos, em obediência estrita a Deus. Em qualquer dos casos, Jonas e Jesus são dois missionários da Misericórdia e ambos a pregam pagando um preço alto: descendo ao vórtice das águas e enfrentando a tempestade (cf. Gn 2,1-11), porque só atravessando a tempestade se vence o mal. Eis porque Jesus dirá que à sua geração será dado apenas o sinal de Jonas (cf. Mt 12,39-41; 16,4; Lc 11,29-32), ou seja, a parábola da Misericórdia anunciada à custa da descida às águas da morte, à custa de uma ida ao fundo.

É tão cristã esta frase: “Naufragium feci, bene navigavi”! “Naufraguei mas naveguei bem, porque aportei no Reino de Deus".